Uma noite, um temporal, um vento, um pesadelo que começou e que não tem previsão de término.
A madrugada do dia 12 de janeiro de 2011 foi inesquecível para a história de Teresópolis, quem sabe do mundo.
Acordo com uma ligação, do outro lado da linha uma amiga esbaforida me pedindo para ligar a televisão para ver algo que mais parecia cena de filme. Algo que se estivesse em uma prateleira de uma locadora de filmes estaria na prateleira de filmes de terror, infelizmente e sem exageros.
Bairros inteiros de Teresópolis foram devastados pela chuva, desapareceram levados por águas com uma pressão dignas de serem comparadas com as ondas do Havaí e lá não parecem tão extasiantes? Porém a diferença está no fato óbvio de que as pessoas nesse “oceano” não possuem nenhuma prancha e nenhuma noção de que essas ondas viriam.
Impossível não imaginar, eram mais ou menos três da manhã, crianças dormiam, pessoas dormiam enquanto suas vidas eram resumidas a alguma lama, muito entulho, muita dor!
Ouvi um relato impactante, um rapaz hospitalizado descreveu que se deitou para dormir, ouviu alguma chuva e acordou dentro de um rio. Esse se salvou. Mas imaginem aqueles que também acordaram com o susto, porém lutaram para se salvar e não conseguiram, sem entender, se foram. A esses uma oração profunda e a confiança de que Deus os guarda nessa hora em um lugar seguro e confortável, mais confortável que suas camas, amém.
Pessoas desaparecidas, corpos distribuídos por toda parte, por cima da lama. Por cima dos muros, por cimas do pó, por cima das cercas. Telefones que não funcionavam, internet ou qualquer meio de comunicação nos faziam refletir de que adiantam o seu preço nessa hora. Não fazem diferença, embora fossem imprescindíveis. O dinheiro não pode comprar nada nessa hora, que ironia nesse mundo tão capitalista, não é mesmo?
Com pressa minha família concomitantemente com todas as famílias dessa cidade e de cidades de toda essa nação, separava tudo que podiam para tentar ao menos ajudar àqueles que perdiam tudo. Uma aflição constante, quando nos colocávamos no lugar desses que não gostaríamos de ser nem por segundos, o que nos levava a orar para que Deus surgisse e agisse como nunca na vida daqueles que certamente nessa hora poderiam afirmar: Senhor És tudo o que tenho.
Ao chegar ao principal local de abastecimento de doações e refugio aos desabrigados, um nó na garganta, pessoas sobreviventes chegavam sujas no corpo, vazias nas mãos, encharcadas nos olhos. Crianças atônitas, velhos, jovens, bebês, todas as crenças, todas as formas, toda a perfeita criação de Deus sedenta de qualquer coisa, a qualquer hora, que pudesse amenizar a dor. O que seria? Como poderia? Só Deus!
Logo a surpresa maior, pessoas chegavam cheias de doações, cheias de amor, cheias de energia para ajudar. Nessa hora ouvíamos gritos constantes, mas dessa vez um som até agradável em meio ao caos. Pessoas gritavam para ser organizar, para atrair mais ajuda. Tudo naturalmente se organizava, comida por setores, material de higiene, de limpeza, roupa, etc. Cada doação tinha seu lugar e sua equipe para recebê-las e distribuí-las. Isso não deveria me surpreender, mas nesse mundo quase sempre individualista, houve um choque agradável. Nossos corações ansiavam por algum acalento. Eis uma resposta.
Pessoas brigavam, muito, aliás, mas para ajudar dessa vez. Não é estranho? Que maravilha! Não há religião, não há amigos, não há família, apenas “irmãos”, seres humanos unidos por uma dor, por um amor maior. Talvez a verdadeira igreja descrita por Cristo, desejada por Cristo. Sinto-me honrada de ver este mover na geração que vivo no lugar onde o Senhor fincou minhas raízes, local onde cresci, onde nasci mais que uma vez, na nação que pertenço.
Encontrávamos familiares, amigos, companheiros de ministério e estranhos por acaso. E muitas das pessoas que muitos jamais imaginariam encontrar estavam lá. Curiosamente despidas de si, revestidas de luz. E o coração de muitos pedia perdão pelo julgamento dessa hora e de outrora.
A surpresa de que a chuva prevista para todo aquele dia de resgate não havia caído. Sim, haveria ainda um milagre para nos agraciar, o primeiro de muitos. Todos criam e clamavam sem cessar por essa verdade.
Igrejas viraram abrigos. Espanto e silêncio para aqueles que um dia reclamaram: de que em todo lugar na cidade abriam igrejas com a finalidade de lucro. E nessa hora haveriam de se calar. Deus usava as coisas e as pessoas mais criticadas para estender a sua mão para aquele povo desolado. Mas uma vez causa de quebrantamento para muitos.
Sei que nunca vi os frutos de um avivamento profetizado há tantos anos sobre a nossa cidade tão de perto, tão real. E sei que é só o começo.
As pessoas descrevem como algo “apocalíptico” todo o infortúnio que nos assola. E quem poderá negar isso?
Pessoas que nunca ouviram falar de profecia, avivamento, apocalipse, salvação. Essas pessoas se juntaram a um exército preparado pelo Senhor quem sabe por anos, como se também tivessem participado dia após dia dessa peneira santa. E não participaram afinal?
Certamente algo está sendo derramado sobre nosso povo. E não falo sobre os infortúnios não! Há uma compaixão, fraternidade, empatia, amor, dignas de Cristo.
Orgulho-me de estar aqui. Me orgulho desse povo, me orgulho do meu Pai que tem sido vivo e resplandecente como só Ele.
Oremos, pois sei que essa batalha ainda nem começou, repito. Haverá mais luta, haverá mais salvação.
Nesse caso, que possamos sim ser gratos por não sermos nada, por sermos frágeis, miseráveis, meros passageiros, coadjuvantes, instrumentos Daquele que é por nós e que tem sido Fiel, Forte, Poderoso e Real.
Teresópolis pertence ao Senhor Jesus. Que saibamos ter gratidão por isso e que profetizemos sem cessar essa verdade .
#texto escrito em 13 de janeiro de 2011.
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